Dei um tempo para o blog. Por vários motivos e desculpas (dá até para incluir a desculpa típica da época: Copa do Mundo, meu amigo...), mas a grande verdade é que "dar um tempo" não é algo que me orgulha muito. Me estressa esses interlúdios desdenhosos, seja em qualquer coisa da minha vida, principalmente nos relacionamentos. Pelo menos para o meu distanciamento blogueiro, minha cara já está coberta com um saco de papel para evitar a vergonha. Porém, na maioria dos relacionamentos, esse não é o caso. Por isso, nada mais justo do que esta crônica refletir sobre o tempo.
Acho que nos relacionamentos pelos quais passei, minhas ex deviam enxergar ponteiros na minha cara, pois elas adoravam essa história do "vamos dar um tempo". O mais inquietante, é que essa ladainha anda bem usual nas relações que existem vida a fora, e é mais comum do que flores, bombons e sentar no sofá domingo com a criatura amada para ver a "Dança dos Famosos" no Domingão do Faustão. (Ok, peguei pesado, sei disso...). Portanto, imaginem (ou relembrem!) o seguinte diálogo diante da "hipotética" situação. Às coisas não vão bem entre o casal, que após dias estranhos, contatos insensíveis e sentimentos de aversão, resolvem quebrar o gelo:
- Então, qual o motivo do silêncio? - diz ele com o oríficio retal na mão, sentindo que a estranheza dela não é TPM.
- Não sei... - ela suspira, implorando que o mundo pare porque ela quer descer.
- É sobre nós? - arrisca ele, se fazendo de monga, mesmo estando na cara que o relacionamento vive um momento "putz, fudeu!". Mas ele não pode dar o braço a torcer. Ou não quer mesmo.
- É... - diz ela, mais escorregadia que sabonete na lendária banheira do Gugu.
- É algo que eu fiz? - ele se culpa, sabendo que isso é o mesmo que uma autopiedade descarada. "Cadê minha mãe" implora, desejando um copo de Nescau e a resolução daquela situação que não vai acabar bem.
- Não, é comigo. - responde ela, merecendo um Oscar por sua atuação de "problemática da relação".
Segundos incontáveis de tensão e suspense ressoam entre os dois. Ninguém tem coragem para dizer ou fazer nada, ambos acuados como em um jogo de xadrez em que qualquer movimento pode ser o diferencial entre ganhar ou perder. Esboçando uma reação, ela finalmente respira fundo, clama por suas forças internas e regurgita incertezas de sua alma:
- Preciso de um tempo! Não tem nada a ver contigo, é uma fase que eu estou passando, e eu preciso de um tempo para pensar melhor nas coisas... - ao dizer isso, parece que ela tira um piano das costas, mas coloca um armário no seu lugar. Seis por meia dúzia, mas pelo menos por enquanto, ela vai se iludir que tem um tempo para respirar antes de ser sufocada pelo enclausuramento das dúvidas. Ou pelo menos, arranjará a coragem definitiva para acabar com a relação. Quem saberá? Ah, e claro, ela deixa uma faca cravada no coração dele.
Ele fica atônito, sem reação. Não sabe ao certo o que isso quer dizer. Olha para ela, quase chorando, mas não faz nada. Ele não pode fazer mais nada, pois é indiferente. Aceita a condição dela, e vai embora cabisbaixo, sentindo que seu coração agora pertence aos embalos dos tic tac's do relógio do tempo...
Para quem já ouviu ou disse a fatídica frase "vamos dar um tempo", sabe que tudo não passa de um eufemismo para "o relacionamento não vai bem, aqui está seu vale transporte para o Fim". É como se a relação estivesse na UTI, respirando só por aparelhos. O caixão já está até encomendado, os parentes chorando, mas quem convalece ainda acredita em milagres. Sabem como é o ser humano, esperançoso por natureza (ainda mais o brasileiro que "não desiste nunca"). Vai que de repente esse "tempo" seja benéfíco e tudo melhore na relação! Primeiro chavão do texto: "sonhar não custa nada"...
Já disse em uma de minhas crônicas, que se a pessoa diz que precisa "de um tempo", ela está sendo educada em dizer que não te quer mais. Os fatores que levam uma pessoa a ficar nessa congestão de ideias emocionais são vários, incalculáveis, bizarros e até mesmo pecaminosos, mas para a pobre criatura que não é relógio, mas mesmo assim tem que dar tempo para um outro alguém, só encontra mesmo dois caminhos a seguir: aceitar ou não o tempo proposto.
Nesse espaço de tempo em que o casal se separa em nome dos sentimentos mais confusos que pode se supor, quem fica "na espera" por assim dizer, declara seu atestado de sofredor. Primeiro, porque essa criatura infeliz não sabe ao certo os motivos que o colocaram na geladeira, ou no banco de reservas dos sentimentos do outro por quem ela ainda nutre grandes esperanças, pois caso contrário um "não dou tempo, vai a merda" seria mais prático e menos insano do que viver essa tortura. Em segundo lugar, e aproveitando o ensejo, já que se falou em tortura, haja limites para os voos que nossa imaginação alça nesse período de indefinição. Nossos neurônios se concentram unicamente em saber o que significa este tempo para a outra pessoa. Vamos da esperança do carnê do Baú da Felicidade até o Inferno astral dos desabrigados das enchentes no Nordeste. Ficamos naquelas: Ele(a) quer cair na gandaia? Na pegação geral? Tirar umas férias de mim? Será que tem outra pessoa na jogada? Tudo vai voltar a ser como antes? Primeira vez sem camisinha engravida? NÃO! Isso, não... Argh! Acho que é menos agoniante fazer gargarejos com soda cáustica.
Tento mas não consigo entender a condição humana (caso tivesse mérito nisso, provavelmente seria laureado em Harvard... ou seria jurado do Ídolos!), mas é impressionante que as mesmas forças que nos fazem suportar situações como essas, não sejam suficientes para pontuarmos os "pingos nos i's" decentemente numa relação. Infelizmente, na maioria dos casos, os sentimentos amorosos (sempre eles...) conseguem nos fazer suportar todos os tipos de sofrimentos e caras arrastadas no chão. Se tem gente louca por aí que mata o filho em nome de uma paixão doentia, então, por essas e outras, esperar no vão do querer de outra pessoa é papinha de bebê. Minha opinião é que o pior ataque é a defesa, mas a melhor defesa é o ataque. Coisa linda seria se alguém a quem foi pedido o tempo numa relação, enchesse o peito de coragem e dissesse na cara da criatura abusada: "seguinte, ou caga ou desocupa a moita!". Nada como dar uma reviravolta no jogo dos relacionamentos, com uma ação digna de autovalorização, afinal, pessoas determinadas tendem a ter a voz de comando numa relação.
Ficar naquelas de "ah, ele(a) não acabou comigo porque tem medo de me perder, por isso pediu tempo... mimimimimimi..." é burrice. E das grandes. Aliás, mais do que isso, trata-se de um convencimento descarado, porque você ainda continua se sentindo como protagonista do filme dessa pessoa, que na realidade está mais a fim de assistir o intervalo comercial. Além disso, vale a reflexão: se você é mesmo tudo isso que pensas que é na vida desta pessoa, ela não precisaria estar dando um tempo na relação de vocês, não é mesmo? Como é mesmo aquele clichê... ah, "quem ama de verdade, não dá tempo." Aham, sei, usei mais uma frase feita, pois tenho mais outra super piegas para completar então: "é pecado ficar desperdiçando tempo para ser feliz". (Bah, me senti usando uma camiseta do Che Guevara , calçando All Star e tomando uma Coca-Cola de canudinho...)
Dar um tempo não deixa de ser a manutenção de uma relação neurótica, cuja ideia de ainda possuir faz com que o outro se ache no direito de interferir em sua vida. Por isso que acabar não é a medida normalmente tomada nessas situações, pois na maioria dos casos, se desprender de alguém não é algo simples, mas é algo necessário. O detalhe é que o peso do finalizar a relação diante da situação do "dar um tempo" deveria ser tratada como uma responsabilidade mútua. Quem quer o tempo deveria ter a coragem de pedir o fim, da mesma forma de quem concede o tal interlúdio. Até mesmo porque, eu duvido que dar um tempo seja um compromisso 100% tácito, da mesma forma que um fim. Ou seja, o sofrimento dá na mesma. Porém, pelo menos terminar é não ter que ficar alimentando a esperança da incerteza.
Talvez a tônica tenha ficado drástica, pois falávamos em "dar tempo" e agora descambamos para um papo de acabar, mas na verdade, tudo isso tem a ver com encararar a realidade. O tempo no final das contas ganha um propósito surrealista de ser um mero artíficio ilusório, uma desculpa efêmera para não tatearmos o real. Se querem se iludir, ou então bancarem os otimistas (como eu, que acredita que vai ganhar na Mega Sena apostando com os números do Lost), prefiram então o lance de acabar para reatar a relação num futuro indeterminado, ao invés de ficarem dando tempo. A princípio vocês podem pensar que se trata das mesmas coisas, mas no fundo a diferença é gritante.
Se vocês estiverem livres e desimpedidos, poderão cair na gandaia, conhecer novas pessoas, e o mais importante é que não terão que prestar contas à ninguém, pois o vínculo foi rompido. É claro que ainda fica o emocional, afinal a relação não acaba literalmente com a verbalização do fim, mas pelo menos as cobranças da volta não serão tão grandes. E se houver as conversinhas moles, e ele(a) chegar com cobranças é mais fácil deixar claro que vocês não tinham mais nada a ver um com o outro. Viu, só como tudo fica mais claro e prático, como "preto no branco", "pão, pão, queijo, queijo"! (E viva os chavões populares!)
Não preciso nem repetir pela enésima vez o quanto relacionamentos são complicados e blá, blá, blá, por isso tentar facilitar às coisas pode ser o verdadeiro sentido da felicidade e da economia em gastos com psicanalistas. Sei que a frase feita do "sofrimento é opcional" é uma das maiores lorotas do mundo, (assim como "Deus ajuda quem cedo madruga" e o "trabalho enobrece o homem"), mas o tal "cortar o mal pela raiz" é uma pérola milenar da sabedoria universal. Então, "deem um tempo" para essa história de "dar um tempo", e enfrentem as formas que seus relacionamentos podem vir a tomar. Nunca é fácil, eu sei, mas caso seja o fim, podemos contar com o tempo, o de verdade, não esse inventado pelos relacionamentos, que na verdade é uma fuga dos fatos. Afinal, como diz o dito popular "o tempo é sábio". AHHHHHHHHHHH!!!! Deu de chavões! Fim. (E não um tempo para pensar em mim, já que às coisas não vão bem entre nós...)